PREPARADOS DE ÁRNICA





Antes de utilizar a árnica ou erva cheirenta, Arnica montana ou A. atlantica, temos que estar bem seguras de que se trata de esta erva, pois com o nome de árnica muita gente nos pode indicar com facilidade outras ervas que nom som tal. Isto, que é tam frequente e que nom sucede com outras plantas medicinais, imagino que se deve a fama da árnica como remédio anti-inflamatório, que a pom em boca de muitas. Mas, se nom temos absoluta confiança em quem no-la dá a conhecer, compre assegurar-se antes de começar a utiliza-la. Em princípio, como a árnica nom se deve utilizar por via interna, pode ser que simplesmente estejamos macerando em álcool pampilhos ou qualquer outra flor amarela, e de qualquer jeito, nenhuma das confusões que até o de agora tenho visto teriam maior problema que o da ineficácia do medicamento. Mas, como queremos árnica porque necessitamos árnica, melhor atender a algumhas das suas características morfológicas que a fam bem identificável:

- A folhas da base da árnica fam umha roseta bem cumprida, de folhas ovais e com 5-7 nervos bem marcados. De esta roseta, que peleja polo seu lugar com força nos prados contra as ervas que a rodeiam, sai um único talo floral, e isto é importante, um único talo floral nom ramificado com uns pelinhos obscuros que se distinguem bem. Medra uns 60 cm como muito. Em cada um de estes talos aparecem um ou dous pares de folhas opostas (nascem no mesmo ponto do talo), e no remate a flor, ainda que é comum que em cada talo saiam duas ou três.
-A flor é umha beleza de flor composta, grandinha, de até 8 cm de diámetro. Cada pétala acaba em três dentinhos bicudos, mui característicos. Se fossemos mais estritas nesta descriçom, diríamos que é umha flor composta, e isto que chamei petala é umha flor feminina, enquanto o disco central, que é da mesma cor amarela, está composto por umha cheia de flores hermafroditas com corola tubular. Olhade de perto a árnica, é realmente bonita!

Como é umha erva perenne, onde a topemos um ano, se nom se dam prácticas agrícolas inadequadas, às que a árnica é muito sensível, toparemo-la o seguinte. Normalmente topare-mo-la em prados, lameiros e lugares húmidos nas zonas mais baixas, mas a sub-especie montana localiza-se até os 1.900 m.

Atendendo a estas características, podedes identificar bem a árnica. Se ainda nom confiades nas vossas observações, podemos tenta-lo se me enviades umhas quantas fotografias, mas com a erva viva no campo, por favor! Também nom nos estranhe que nos jurem e per-jurem que se trata de árnica aquela que se chama “falsa árnica”, o Helichrysum foetidum, umha erva de origem sudafricano, hoje bastante comum e que nasce em beiras de estradas e zonas incultas. Ainda que também será comum que nom vo-la aconselhem, como a árnica, como anti-inflamatório do aparato locomotor, se nom para problemas da pele e como cicatrizante. Ainda que nom topei referencias concretas sobre esta erva, sim outras do género Helichrysum, como a carrasca de Sam Joám, que também nasce na Galiza, tem utilidade em afecções e problemas cutáneos, polo que nom lhe quito a razom a quem utiliza de este jeito a falsa árnica.

Mas, todo o contrário, a árnica é umha erva que pode resultar mesmo irritante sobre a pele e causar dermatite a pessoas sensíveis ou se nom for bem preparada e diluida. Ainda que também tem propriedades cicatrizantes, utiliza-se principalmente polas suas qualidades anti-inflamatórias e favorecedoras da circulaçom sanguínea:

-Dores reumáticas, hematomas, contusões, esguinces,.. dores musculares e articulares em geral.
-Afecções bucais; aftas, gengivas inflamadas, piorreia,.. em gargarejos. Também deste jeito, para tratar a amigdalite.
-Cicatrizante sobre feridas e graos.
-Remédio tradicional para evitar a caída do cabelo.
-Anti-inflamatório para hemorroides.

Como o seu uso interno é arriscado, só vou falar dos usos externos. Utilizam-se as flores e a raiz para elaborar os preparados, mas as receitas que vou dar aqui fam referência só a flor, pois nom acho necessário matar a erva para tirar a raiz. Se a cuidamos, a árnica estará de novo, ano trás ano, no seu lugar.

Pode preparar-se em infusom, tintura ou aceite, atendendo as seguintes quantidades, já que é um
medicamento potente:

-Infusom de 1 colher de flores (secas) por 1⁄2 litro de auga. Repousar a infusom 10 minutos. Podemos usa-la assi para fazer gargarejos para tratar problemas bucais como os antes indicados. Com esta infusom podemos preparar compressas para aplicar nas zonas doloridas, preparar aplicações com argila, etc.

-A preparaçom com mais tradiçom na Galiza é a tintura, que se pode preparar a partir das flores frescas cobertas de álcool (augardente). Simplesmente enchemos um tarro de flores, sem apertar, e cobrimos de álcool, que fique um par de dedos por cima da erva. Este preparado guarda-se assi um mínimo de 7-10 dias (eu deixo normalmente as tinturas fazer-se durante 21 dias), agitando de vez em quando. Depois filtra-se e guarda-se (podedes ler os conselhos de elaboraçom das tinturas).
Como lhe imos dar um uso externo, podemos utilizar álcool de farmácia, rebaixando-o a 60 grados (Utilizando auga destilada, misturamos 600 g de álcool com 400 de auga). Para as mais amigas das quantidades:
100 g de flor fresca + 500 g de álcool de 60 grados

Se preferimos utilizar a flor seca:
40 g de flor seca + 500 g de álcool de 60 grados

A tintura compre dilui-la em auga (1 parte de tintura por 2-3 de auga) antes de aplica-la, bem directamente sobre a pele, bem em compressas sobre as zonas a tratar. Assim diluída pode-se utilizar como tónico capilar, para frenar a caída do cabelo.
Também a partir da tintura podemos elaborar um glicerolato (25 cc de tintua por 100 cc de glicerina), que resulta mais suave sobre a pele.

A tintura pode-se utiliza para gargarejos para problemas bucais, diluindo 5 partes de tintura por 95 de auga. A auga pode-se substituir por infusons de ervas adstringentes para potencializar o seu efeito.

-Outra maneira de preparar a árnica, mui útil e mais suave com a pele, é o azeite medicinal. Já que o azeite nom é mui bom solvente dos princípios medicinais da árnica, o processo seria o seguinte:
Macerar 100 gramas de flores frescas de árnica (40 g de flores secas) cobertas de álcool de 90 grados (500 gramas de álcool) durante 12 horas. Misturamos com 1 litro de azeite de oliva de qualidade (ecológico) e quentamos a banho maria até evaporar o álcool (polo borbulhar da mistura ao lume saberemos quando já nom fica álcool. Devemos fazé-lo num lugar bem ventilado!). Deixamos repousar durante 24 horas esta mistura e filtramos para retirar as flores.
Com este azeite e cera de abelha podemos preparar um bálsamo, mais cómodo de levar e aplicar. Podedes ver a receita dos bálsamos aqui.


Para rematar, atender às precauções: Em pessoas sensíveis, a doses elevadas e sem diluir
bem, pode resultar irritante. Evitar em mulheres grávidas e utilizar com muita precauçom em crianças. As receitas que se recomendarom com anterioridade som preparados vivos, muito activos. Os preparados farmacéuticos de árnica que se vendem em formato de sticks para utilizar com as crianças, a pesar da “moda” da árnica, levam quantidades ínfimas de esta erva e normalmente baseiam os seus efeitos noutras ervas medicinais. Nom acho que cumpra tratar os topes e morados habituais das crianças com árnica; se me apuras, nem sequer penso que seja necessário tratá-los. Mas se queredes ter a mao algum remédio, existem multidom de ervas mais suaves e sem tanto risco no seu uso como a árnica. Tentarei nas próximas entradas trazer algumha receita para estes casos. Deixemos a árnica para os traumatismos mais fortes, as artrites, as lumbálgias, os esguinces,.. em geral, para os problemas “sérios”. E apanhe-mo-la com muito amor e respeito, sabendo que é umha de essas ervas ameaçada pola voracidade de este sistema que fai da saúde um negócio, do nome de algumhas ervas um reclamo publicitário e da Terra umha simples fonte de recursos.