Botequim de inverno nos caminhos

De novo o Novas da Galiza na rúa, no seu número 151! muito contente da minha pequena aportaçom, este artigo que aqui vos deixo -que acompanha um desenho fabuloso da Carla!-, com alguns conselhos frescos para aguentar o inverno verdadeiro, que como dizem por ai, é entre Janeiro e Fevereiro.


"Na nossa tradiçom farmacológica -e estou falar da nossa medicina tradicional baseada, entre outras muitas cousas, nos conhecimentos sobre ervas com propriedades curativas- algumhas poucas ervas tinham o prestígio suficiente para merecer ser secadas nos faiados das casas a aguardar à enfermidade.

Quiçá nom fosse simplesmente prestígio, quiçá atendia mais bem ao curto período de tempo em que estas ervas estavam disponíveis em óptimas condições para ser consumidas. A fim de contas, o sabugueiro floreia só na primavera ou o milho só tem a barba ruiva quando se apanham as patacas, polo que compre estar atentas e aprovisionar-nos delas se queremos, em março, ajudar-nos das suas propriedades para sacar esse molesto ardor ao mijar, que nos colheu o frio na barriga. E se o milho e o sabugueiro nos vam bem para as infecções das vias urinárias, nom há razom para nom fazer esse pequeno esforço de aprovisionamento, que se corresponde com umha mentalidade autónoma, madura e responsável, justo a que menos interessa aos vendedores de antibióticos.
Mas este artigo nom vem a ser um reproche para quem nom fizestes isto! Todo o contrário, consciente de que o inverno, o recolhimento e a escuridade, som momentos propícios para a alquímia, vou apresentar umhas plantinhas que estám presentes praticamente em qualquer momento do ano no botequim de urgências dos nossos caminhos, prados e montes.
O chantagem, sete-costas, lingua de boi ou de vaca,.. umha longa listagem de nomes para o Plantago lanceolata (o das folhas alongadas) e o Plantago major (o das folhas arredondadas), que som autênticos cura-o-todo da natureza, especialmente lá onde precisemos um remédio anti-inflamatório: Catarreiras, bronquites, tos,.. qualquer afecçom das vias respiratórias, sobre as que actua como expectorante; adstringente excelente, que se pode utilizar por via externa tanto em feridas, picaduras, torcidas, varices, hemorroides,.. como em gargarismos para aliviar problemas da gorja e da boca, diarrea, como colírio para os olhos, etc.
Para ajudar a nossa infecçom de orina poderiamos aproveitar-nos das qualidades anti-inflamatórias do chantagem, e somar-lhe as propriedades da erva dos muros, o rompe-pedras, Parietaria judaica, cujo nome indica o seu uso para expulsar os cálculos renais e biliares do corpo, mas também é diurética, boa aliada num catarro, como umha bebida óptima para recuperar ao fígado de resaca.
Nom falamos de nenhuma afecçom na que nom nos beneficiariamos da sua prima, a erva do cego, a urtiga, Urtica dioica, a planta com mais aplicações medicinais das nossas latitudes, que nem colhem neste artigo. E por se esta nom a topamos, podemos andar à procura da ortiga morta, o chuchamel, Lamium maculatum, que se ainda nom floreou logo o há fazer. Também boa amiga em catarreiras, problemas digestivos,.. assim como para as menstruaçons dolorosas ou irregulares.
E com qualquera delas nos podemos fazer umha mascarilha facial ou um enjuague para o cabelo, que som bons ingredientes cosméticos; como umha sopa ou um revolto, que som bons comestíveis. E nem comparaçom com as ervas mortas e ensacadas que nos vendem no herbolário! para além de que, com estes gestos tam simples, quiçá comecemos a sanar umha dor que vem de muito mais longe. Procurem e experimentem!"